Bairro do Camorim
- A História Aos Olhos Da Crônica -
Antonio Cabral Filho
Rio de Janeiro - Rj
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Apresentação
FOTO 1
Antonio Cabral Filho, 18 de março de 2012
FOTO 2
Antonio Cabral Filho, 18 de Março de 2012.
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FOTO 3
AÇUDE DO CAMORIM
FOTO de Antonio Cabral Filho, 18 de Março de 2012
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SOBRE O BAIRRO DO CAMORIM,
saiba mais...
http://taquaranewsjornal.blogspot.com.br/p/1-nao-quero-fazer-apresentacoes-sobre-o.html
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CAMORIM DAS LETRAS,
por isso, explica a palavra. Segundo alguns, a palavra CAMORIM deriva do tupi, usando daqueles hibridismos tão comuns aos idiomas nativos e reúne a sílaba "CA", que significa MATA com a palavra MORY, que quer dizer "mosca ou mosquito", o que resulta na expressão "Mata que tem mosquito". Porém, segundo outros, CAMORIM quer dizer peixe miúdo ou peixinho, muito comuns nos riachos que descem das suas serras.
Bom, resolvido isso, fomos informados que todas essa região em torno do hoje Bairro do Camorim, chamava-se Pirapitingui, que significa peixe de escamas brancas e foi um imenso engenho pertencente a Gonçalo Correia de Sá, que em 1625 mandou construir a Capela de São Gonçalo de Amarante, padroeiro do lugar.
A topografia desta região, em sua maior parte, constitui-se de montanhas e integram o Maciço da Pedra Branca como parte do parque estadual, composta pela Pedra Rosilha e Serra do Nogueira. No interior de suas florestas encontra-se uma imensa bacia ao fundo das montanhas onde se localiza o Açude do Camorim, medindo 210.000 m³ e profundidade de 18 m. ficando a 435 metros acima do nível do mar. O açude foi planejado por Sampaio Correia e construído por Henrique de Novaes, formando um dos mais belos cartões postais da nossa região. Logo abaixo, ficam as cachoeiras do Camorim com véu de noiva e a estação de tratamento de água, construída em 1908.
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Camorim, Muito Prazer - Parte 1
Foi em dezoito de março de 2012, aniversário da Ana Maria, minha filha, completando trinta anos. Ela estava fazendo os preparativos, então eu resolvi sair pra andar um pouco junto com a Rose, minha esposa. Aí o Márcio, primo dela, decidiu ir também. Eu dei a ideia de subirmos a reserva, conhecê-la um pouco. Afinal, o Parque Estadual da Pedra Branca merece todo carinho. Alguém falou em levar água, lanches, máquina fotográfica etc e, rapidamente, nos reagrupamos cheios de apetrechos. Demos tchau aos familiares nos chamando de malucos e marchamos. Eram oito horas da manhã quando saímos. Pegamos a Estrada dos Bandeirantes, entramos pela Estrada do Camorim e deparamos com a Igreja de São Gonçalo de Amarante. Paramos. Ficamos um bom tempo procurando entender a Obra. A placa inaugurativa informa que foi construída em 1625. Mas e daí?
Fomos para a reserva. Ao chegar na "portaria", recepcionou-nos um vigilante, que nos encaminhou a um senhor com a camisa da CEDAE. Este, levantou-se da cadeira em que repousava tranquilamente e nos cumprimentou, aparentemente, um pouco a contra-gosto. E convidou-nos a segui-lo para uma sala ao lado, o que fizemos. É uma espécie de ante-sala do Parque, onde se encontram organizadas todas as informações sobre ele. O funcionário nos mostrou as trilhas, chamou atenção para as direções e apontou para os pontos de orientação geográfica, para o caso de se perder. Agradecemos e partimos. Seguimos a trilha principal, rumo ao Açude do Camorim, que descreve um arco perfeito, a partir do pé da serra. A trilha segue a lombada da ladeira até quase no topo, de onde se avista o baixadão de Vargem Grande, do Recreio dos Bandeirantes, da Barra da Tijuca e o mar, o infinito mar do Atlântico. Ficamos possuídos pela imagem que o mar nos proporcionou com sua fulgurante imensidão. Não foi fácil para nos desvencilharmos dela e seguir caminho para o Açude. Mas rumamos e seguimos no sentido oeste, atravessando a serra. Na metade da sua extensão pudemos perceber que ela é um imenso vale, formando uma bacia, que recebe lá no seu fundo diversos pequenos regatos, que vão formar o tão famoso Açude do Camorim. Ao chegar às suas margens, ficamos paralisados com o seu panorama prateado, cercado de verde e pontilhado por flores aquáticas de cores variadas, pássaros, patos e lambaris nos cumprimentando ao espelho d'água; e alguém perguntou " Estou no paraíso?"
Realmente. Tem-se essa impressão, mas foi possível constatar alguns "adão-e-eva" nusinhos, transando em cima das pedras, sem a menor preocupação com a presença de estranhos; estranhos talvez até na espécie, porque fazer amor no meio da mata à beira de um lago sobre uma pedra, não é programa de gente, nem de índio...
Fizemos algumas pesquisas sobre o lado. Ele está localizado sobre uma imensa nascente, pois é possível perceber a água borbulhando em diversos pontos. O seu fundo é um imenso depósito de materiais orgânicos em decomposição, o que resulta num pântano perigoso, sobretudo para quem não se relaciona bem com águas paradas, aonde a natação é perigosa. Sua fauna é muito rica, com variadas espécies de peixes, entre as quais se destaca o bagre e foi possível notar visitantes assando peixe em espetos artesanais, Há muito lambari, mas este é utilizado apenas como isca. Sua flora é riquíssima em flores, sobretudo orquídeas, de diversos tipos e cores, devido a imensa quantidade de galhadas no leito do Açude.
Bom, isto foi apenas a chegada. Consultamos as horas e percebemos que estávamos sem sinal nos celulares. Aí resolvemos lanchar. Nos sentamos sobre uma árvore e atacamos nossos sandubas, depois tomamos água e acertamos de fotografar o lago de diversos ângulos. Mas isso não é fácil pois ele mede em torno de trezentos metros, a partir desta pedra, que é a parte baixa, por onde a água desce para formar a cachoeira a uns duzentos metros a baixo, conhecida como Véu de Noiva. Como é possível notar na foto, o ambiente é frequentado mais por jovens, seja pelo espírito de aventura, seja por um "sexozinho" extravagante, um peixinho assando na floresta, uma "merirruana" barata, tudo devidamente ciceroneado por uma caipirinha disfarçada em garrafa de água. Com toda franqueza do mundo, é uma pedida e tanto!
Depois que tiramos bastante fotos, seguimos o leito formado pelas águas do Açude, que vão para a cachoeira e findam na estação de tratamento rumo à cidade. Entre o Véu de Noiva e o Açude há uma caverna imensa, por onde a água passa entre as pedras. É muito perigoso tentar cruzá-la, pelo menos para mim, devido à quantidade de morcegos, caranguejos, escorpiões e inclusive cobras, que encontramos dormindo, além da camadas de lodo ser muito espessa e escorregadia. Entre os nossos desafios, um seria transpor a gruta, mas desistimos e desaconselhamos.
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Camorim, Muito Prazer - Parte 2
Como é notável o meu entusiasmo com a viagem ao Açude do Camorim, o encontro com a capela não deixou por menos. E ao chegar em casa após passar o dia todo subindo e descendo serra( É verdade; passamos o dia inteiro de um lado para o outro, dentro da floresta, alimentados a sanduiche natural e água, mas mobilizados pelas maravilhas ao nosso redor.), encontrei a minha casa lotada de gente. Eram parentes, amigos da família e amigos da minha filha, que chegavam para comemorar o seu aniversário.
Mal pude descansar, tomei um banho, me alimentei direito e fui "fazer sala" para visitantes. Havia muito churrasco, cerveja, vinho, refrigerantes e música amena, mas fiquei "devagar". Nem vi o tempo passar e às dez horas saiam os últimos convivas. Demos uma geral na casa e fomos dormir. Dia seguinte, todo mundo quebrado, levantamos tarde e já no café da manhã pensei na capela. Logo, pus-me a pesquisar e levantei o livro do jornalista Waldemar Costa, à venda numa papelaria da Praça Seca. Sem pestanejar, parti pra lá. Adquiri o livro e comentei o Camorim com a vendedora, que indicou-me outro, Jacarepaguá de Antigamente, do historiador Carlos Araujo, à venda numa papelaria do Mercadão de Jacarepaguá.
Uma hora depois, adquiri-o e vim pra casa como um raio.
É pouco provável que alguém veja graça nisso tanto quanto eu. Afinal, como disse uma administradora escolar, "cultura inútil !" Mas nenhum desprezo me atinge graças à minha paixão por história.
Na tarde de segunda-feira, dezenove de março de 2012, finquei pé nas leituras, anotações e compilação de dados. E, como diz um poeta, " se não tens razão de pranto..." deixe-me em paz.
Eis a Capela de São Gonçalo de Amarante. Foi construída por Gonçalo Correia de Sá. Recebeu concessão do Prelado Matheus da Costa Aborim, como manda o costume para com a Santa Madre Igreja e foi criada no dia 4 de outubro de 1625. Está localizada em terras do antigo Engenho do Camorim, ex Pirapitingui, nome indígena do local.
Mas vamos ao Santo. São Gonçalo de Amarante é celebrado no dia 10 de janeiro, ao estilo festa popular do tipo junina. E suas homenagens já integraram o Calendário Folclórico do Distrito Federal, Rio de Janeiro, segundo Mariza Lira, historiadora e folclorista. Ele nasceu no ano de 1200, de família nobre, no termo de Guimarães - Portugal. Dedicou-se à pregação religiosa após visitar Roma e Jerusalém. Destacou-se como ótimo construtor, sendo suas principais obras a ponte sobre o Rio Tâmega no Conselho de Amarante e a reedificação da capela, sob invocação de Nossa Senhora, em 1250, na mesma cidade. Sua morte ocorreu em 1259, após o que foi canonizado pelo Papa Pio IV. Esta Capela de São Gonçalo de Amarante é, sem sombra de dúvida, uma peça da nossa história, um monumento da cristandade e um símbolo cultural fantástico, pelo que significação e pela sua simplicidade.
No entanto, São Gonçalo, tanto quanto Santo Antonio, tem seu folclore particular. Ele é tido como protetor dos amores difíceis, abrandador de corações duros, condutor das paixões volúveis ao encontro dos portos seguros. Segundo suas LOUVAÇÕES, isto se confirma:
São Gonçalo milagroso,
que veio de Portugal,
ajudai-me a vencer
essa batalha real.
&
São Gonçalo pequenino,
resplandece em meu altar,
seus poderes são tão grandes
que faz as moças casar.
&
Meu bondoso São Gonçalo,
em vós ponho toda fé,
tenho roça, tenho casa,
só me falta uma muié.
&
Se São Gonçalo soubesse
o grande poder que tem,
fazendo casar as velhas,
casava as moças também.
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Camorim, Muito Prazer - Parte 3
Engenho do Camorim
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-Bico de pena, Magalhães Correia, Sertão Carioca-
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Bom, sem querer alugar ninguém, preciso informar que meu entusiasmo com as coisas só finda quando eu sinto que estou satisfeito, ou seja, naquele momento em que percebo não faltar nada a acrescentar.
Dito isso, quero relembrar que na crônica anterior eu parei ao saber que a Capela de São Gonçalo de Amarante, uma cidade portuguesa, está plantada sobre terras do antigo Engenho do Camorim, de propriedade do Gonçalo Correia de Sá. Mas quem é o cara? Qual é a dele? De onde ele vem?
Não é fácil responder, assim, de cara! Precisamos de ajuda. E aqui entram o jornalista Waldemar Costa e o Pesquisador Carlos Araujo em meu socorro. Gonçalo Correia de Sá é filho de Salvador Correia de Sá e neto de Estácio de Sá, o fundador da Cidade De São Sebastião do Rio de Janeiro, morto em combate pela libertação da cidade invadida pelos franceses; que no entanto teve o desfecho da vitória portuguesa comandada, nada mais nada menos, do que por Mem de Sá, governador geral do Brasil, e tio avô de Gonçalo e Martim Correia de Sá. Dá pra sentir a força da Família Sá nos destinos da cidade e do país? Pois é !
Logo após todos os desfechos, começaram os acertos de contas, ou seja, os mandatários - leia-se Salvador Correia de Sá - precisavam recompensar os seus aliados na luta contra os invasores e é nesse rolo que Jacarepaguá entra na história. Um tal Jerônimo Fernandes e outro fulano dito Julião Rangel de Macedo recebem, no ano de 1567, as terras referentes à região hoje conhecida como Jacarepaguá. No entanto, os dito cujos tinham mais o que fazer e não deram a mínima para as sesmarias, o que resultou na sua transferência de mãos, e foram doadas aos filhos do Governador Salvador Correia de Sá, o Gonçalo e o Martim.
Salvador Correia de Sá,
governador do estado e pai do Gonçalo e do Martim.
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O termo de doação, denominada à época "Carta da Sesmaria" foi assinado em 9 de setembro de 1594 e confirmado pelo Rei Felipe II, em 26 de maio de 1597. Os mesmos dividiram a região de comum acordo e a parte do Gonçalo incluía Barra da Tijuca, Freguesia, Camorim, Taquara e Campinho, ficando Martim com Vargem Pequena, Vargem Grande e Recreio. Mas o Martim gostava mesmo era de política e chegou a governar o estado por duas vezes, e o que fez Gonçalo? Tomou conta das terras do preguiçoso, arrendou boa parte das suas terras a terceiros, construiu o Engenho do Camorim em 1622, usando parte das suas terras e as terras do irmão, gerando o povoamento e desenvolvimento da região. Assim é que três anos após criar o seu engenho, Gonçalo fundou a Capela de São Gonçalo de Amarante.
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Camorim, Muito Prazer - Parte 4
Fundar capelas, eis a questão...
Siga-me se tiver gana, mas o que faria um senhor de terras, senhor de escravos, senhor de engenhos, comerciante de açúcar, membro de uma família poderosíssima ligada à Coroa Portuguesa, senhora dos destinos do Brasil e algures, vir aqui ao pé da minha serra fundar capelas? Por todas as juras que não faço, como entender isso? Já ouviu falar no Santo Ofício?Vejamos o que fazia o Santo Ofício nestas plagas....
Uma coisa muito comum nos tempos coloniais era o Senhor de Terras e Engenhos erguer uma capela para o seu santo de devoção nas proximidades da residência. Isso trazia a Igreja para junto dele e servia de correia de transmissão das influências políticas junto aos mandatários. Outra coisa também muito forte nessa época era fazer todos os empregados, escravos ou não, se tornarem seguidores de sua fé, batizando-se e casando-se, a si próprios e a seus descendentes. Por isso, podemos constatar negros e índios cristãos, desde o Brasil profundo até aqui na metrópole. Portanto, a FAMÍLIA SÁ não teria como ser diferente, uma vez que a Santa Madre Igreja se constituía numa parte importante do Estado, e ninguém assumia um cargo político sem o beneplácito dos detentores da palavra divina. Sua força era imensa, tão grande a ponto de um simples mal-estar entre um religioso e o outro virar sinais de heresia, práticas judaicas, sintomas de feitiçaria, bruxaria e sei-lá-o-quê. Isso aconteceu aqui, na nossa JACAREPAGUÁ, com a FAMÍLIA MANOEL DE PAREDES em 1694, após a Senhora Catarina Soares Brandoa chegar a Lisboa, procurar o Santo Ofício e denunciar a todos como praticantes de judaísmo. E para evitar isso, todos procuravam seguir o pároco mais próximo, orientar-se com ele, atender seus pedidos, recompensar suas bênçãos e convidá-lo para "santificar" seus empreendimentos com inaugurações religiosas, missas e que tais. Daí ser muito comum constatarmos grandes extensões de terras, no campo, de imóveis, na cidade, pertencerem à "Cúria Metropolitana". Afinal de contas, um senhor de terras não vai se opôr aos interesses do outro. Assim é que temos em nossa comunidade uma organização religiosa, cristã, católica, o Mosteiro de São Bento, senhora de engenhos, terras, escravos e freguesias religiosas. É nesse quadro que surgiu a Capela de São Gonçalo de Amarante, através de Gonçalo Correia de Sá, que se multiplicaria a partir de sua morte, em 1634. Logo a seguir, sua esposa, Dona Esperança, e sua filha, Dona Vitória, esposa de Dom Luis Céspede Xeria, passaria em testamento as suas heranças ao Mosteiro, com data de 30 de janeiro de 1667. Só assim é que se compreende como os Engenhos de Vargem Grande, Vargem Pequena e Do Camorim viraram propriedades da igreja católica.
Mas, espere aí? Como a igreja iria explorar esses meios de produção? Terras, engenhos, agricultura, pecuária; os padres, os seminarista, iriam "trabalhar"? Calma, que eu explico....
Camorim, Muito Prazer - Parte 5
ESCRAVOS DA IGREJA
Hoje nos surpreendemos com tais perguntas, mas nos tempos coloniais, se alguém soubesse que "imaginávamos pensar nisso", iríamos para a fogueira do Santo Ofício como hereges ou algo pior. Por quê? Simplesmente era "normal" a igreja possuir escravos, tanto quanto qualquer outro senhor. É claro que ficamos boquiabertos com tal constatação, sobretudo se lembrarmos que muitos religiosos católicos foram perseguidos por se oporem ao trabalho escravo. Mas numa sociedade BRANCA, até isso era norma: suprimir as divergências. Aqueles que discordavam de alguma coisa, que pensavam diferente, eram simplesmente postos à margem, excomungados, deportados ou imediatamente estrangulados, como aconteceu com TIRADENTES, aliás, um BRANCO.
Logo, não é surpresa que aqui na nossa JACAREPAGUÁ tudo isso existisse. Só para ressaltar um detalhe, a Igreja de Nossa Senhora da Penna, na Freguesia, tem sua história e fundação vinculadas ao fator negro, escravo, vítima da ignomínia branca. Apresentam como LENDA....Dizem que um pequeno escravo perdeu de vista a vaca que tomava conta, sendo ameaçado de punição por seu senhor se não a encontrasse. Muito aflito, o menino pediu ajuda à Virgem Maria. Nesse exato momento do alto da Pedra do Galo, surgiu Nossa Senhora apontando para o lugar onde se encontrava o animal desaparecido. Contam que o milagre foi presenciado pelo fazendeiro, que em agradecimento à virgem, mandou construir a ermida e alforriou o escravo.( Aventura na História de Jacarepaguá,
pag 95, Waldemar Costa).
Portanto, não é de se assombrar, embora seja triste; triste que exatamente aquelas pessoas às quais devotamos a nossa fé e libertação, desde o pecado até à ignorância, venha nos tornar suas "propriedades", nos escravizando, tanto quanto o mais ordinário escravocrata. Só assim se justifica que a nossa Capela de São Gonçalo de Amarante esteja envolvida com engenhos, terras, brigas com herdeiros das terras e guerras judiciais que duraram quase um século.
No entanto, não fique triste, veja o que diz o historiador Joaquim Nabuco, em matéria no site VIDA PASTORAL:
Já que os padres pertenciam à mais alta camada social num país baseado no trabalho escravo, inclusive no trabalho doméstico, não é de se estranhar que os padres fossem donos de escravos, senhores numa sociedade escravocrata. Eles não se distinguiam dos demais amos de escravos, fazendo com que a religião católica no Brasil-Colônia fosse uma força apagada, uma consciência adormecida. Ninguém melhor do que o grande lutador pela abolição da escravidão no Brasil nos anos 1870-1880, Joaquim Nabuco, para dizer até que ponto esse convívio diário entre padres-senhores e negros-escravos prejudicou a atuação do catolicismo enquanto movimento baseado no evangelho: “Grande número de padres possuem escravos, sem que o celibato clerical o proíba. Esse contato, ou antes contágio de escravidão deu à religião entre nós o caráter materialista que ela tem, destruiu-lhe a face ideal e tirou-lhe toda possibilidade de desempenhar na vida social do país o papel de força consciente”[3]. Joaquim Nabuco podia falar com experiência: lutou em vão com todas as forças para que o clero se interessasse pela causa da abolição. Foi na “seita” dos maçons que encontrou compreensão e colaboração para seus projetos de libertação das pessoas negras no Brasil. Os padres ficaram insensíveis e não usaram do poder do púlpito para esclarecer o povo e divulgar a ideia da libertação. Foi com certa mágoa que Nabuco escreveu acerca dos bispos dom Vital, do Recife, e Dom Macedo Costa, de Belém, que a luta deles se dava num campo errado: em vez de combater a maçonaria, os bispos teriam que combater a escravidão: “Nem os bispos, nem os vigários, nem os confessores estranham o mercado de entes humanos… Dois dos nossos prelados foram sentenciados à prisão com trabalho, pela guerra que moveram contra a maçonaria; nenhum deles, porém, aceitou a responsabilidade de descontentar a escravidão”[4].Essa oposição entre a luta contra a maçonaria (luta pela hegemonia do poder) e a luta contra a escravidão (luta a favor do pobre oprimido) era típica do pensamento e ação de Nabuco na época em que ele se engajava de corpo e alma “a serviço da generosa raça negra”, segundo suas próprias palavras. Ele se distinguia dos políticos de seu tempo, empolgados pela discussão entre monarquia e república como forma de governo no Brasil.
Fonte:
http://vidapastoral.com.br/artigos/ministerio-presbiteral/padres-e-escravos-no-brasil-colonia/
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Camorim, Muito Prazer - Parte 6
Cemitérios: Senhores, Escravos e Guerras.
Não sei se alguém já se perguntou por cemitérios em Jacarepaguá. Mas desde o momento em que Estácio de Sá decreta a fundação da Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro,
Memorial Estácio de Sá
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em 1º de Março de 1565, a necessidade de cemitérios se faz presente.
É fato de conhecimento público que os franceses, liderados por Nicolau Durand Villegaignon (1510-1575), já se encontravam aqui há mais de dez anos, mas os portugueses não se intimidaram. Durante mais de dois anos travaram uma guerra sangrenta para eliminar a presença francesa nas terras da Guanabara. Como o contingente das tropas portuguesas fosse insuficiente, em torno de 160 guerrilheiros, tiveram grande apoio da Igreja Católica nas pessoas do Padre Anchieta e Manoel da Nóbrega, jesuítas, e da Capitania de São Vicente - São Paulo - que usaram de suas habilidades no trato com os índios, no caso o Povo Temiminó, do Guerreiro Araribóia, para "dar uma força aos portugueses" e lutar contra os franceses, apoiados pelo Povo Tupinambás, ambas as tribos já inimigas históricas em disputas por estas terras. Em 20 de janeiro de 1567 chegaram reforços com uma esquadra comandada por Cristóvão de Barros, tendo Mem de Sá, então Governador Geral do Brasil, como uma espécie de Chefe do Estado Maior da Tropas Portuguesas. Durante os combates, Estácio de Sá comandou tropas no confronto de Uruçu-mirim, atual Praia do Flamengo, e Ilha de Paranapuã, a nossa Ilha do Governador, foi atingido por uma flecha Tupinambás e veio a falecer em 20 de fevereiro. Mas não sobrou (1) francês pra contar histórias.
Porém, era a segunda vez que Mem de Sá visitava o Rio de Janeiro, exatamente para desgraça de Villegaignon, que fora derrotado por ele em 1560, quando perdeu o Forte Coligny ou Forte de Villegaignon, atual Escola Naval. Logo a seguir, Mem de Sá tomou um conjunto de medidas administrativas e, uma delas, foi nomear outro sobrinho, Salvador Correia de Sá, para cuidar das conquistas.
Bom, sabemos que os Temiminós de Araribóia foram premiados por seu apoio aos portugueses com o lado fluminense da Guanabara, a Niterói que conhecemos, tendo reunido sua gente lá naquelas bandas, cuidado de seus feridos e mortos. Mas e os Tupinambás? Alguém tem notícias? Onde estão enterrados tantos índios? O que fizeram dos franceses nem pergunto. No entanto, do lado português morreram quantos e aonde estão enterrados? Estamos falando do ano de 1567 e o primeiro cemitério criado no Rio de Janeiro data de 1858, o Cemitério do Caju. Sabemos que até aí era costume enterrar os entes queridos no subsolo das igrejas, mas nem haviam igrejas aqui nessa época, vindo a Primeira Igreja Católica do Rio de Janeiro a ser fundada na Praia Vermelha, no ano da vitória sobre os francese,1567, para homenagear São Sebastião.
-peça da época-
(http://igrejadoscapuchinhos.org.br/historia/)
No entanto, salta aos olhos alguns detalhes casuísticos para com os mortos, não por culpa das gerações contemporâneas, mas cometidos exatamente por aquelas personalidades determinantes de épocas passadas: é o fato gritante de existir no Ossário do Cemitério do Caju, lá em seu subsolo, corpos desde o século 17 até ao século 19, totalizando mais de mil esqueletos, recolhidos em cemitérios anônimos, clandestinos, particulares etc, tudo fruto do período escravocrata carioca.
Ah (!), mas o que a Capela de São Gonçalo de Amarante tem a ver com isso? Muito ! Saibam que
- http://ihja.blogspot.com.br/2010/11/os-escravos-do-camorim.html-
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como dissemos acima, em épocas passadas era costume enterrar os entes queridos nos subsolos das igrejas. Após a comprovação do óbito, preparava-se o morto, dava-se-lhe banho, vestia-se-lhe com a melhor roupa, forrava-se o caixão, e depois de colocá-lo dentro, enfeitava-se o féretro com flores perfumosas, para a partir daí, promover o velório. após o qual saia-se em cortejo pela vizinhança, entoando cânticos religiosos, obviamente cristãos, até chegar à igreja, onde uma ou duas pessoas combinadas com a família do defunto cavavam a sepultura. Nesses casos, sempre houve discriminação, aceita por alguns como "costume", de reservar a frente do altar para os mais poderosos, depois os abastados, e seus familiares e apadrinhados. A parte da frente da igreja pertence aos escravos de serviço e as laterais aos demais, escravos ou não. As imagens acima são comprovações das ossadas encontras na Capela de São Gonçalo de Amarante, nas escavações realizadas no seu entorno, o que confirma nossas palavras sobre o modo agir e a inexistência de cemitério em Jacarepaguá naquela época.
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Camorim, Muito Prazer - Parte 7
Bom, o aniversário da minha filha, a visita ao Parque, ao Açude do Camorim, os sustos que tomei andando dentro da mata, o meu entusiasmo com tantas descobertas, fizeram de mim uma outra pessoa. Agora, eu sei que o Bairro do Camorim é resultado de um engenho, que resultou em mais dois, o Engenho de Vargem Pequena e o Engenho de Vargem Grande; sei que a igreja resolveu o problema criado pala doação das propriedades e fiquei sabendo que os padres doavam pequenas glebas aos escravos para que eles pudessem se prover de alimentos. Fiquei sabendo ainda da existência de QUILOMBOS NO CAMORIM, que há populações reivindicando a sua história e ancestralidade, inclusive através de entidades associativas, registradas e reconhecidas por sua atuação em defesa dessas populações, das quais uma é a ACUCA - Associação Cultural do Camorim, e que há associações de moradores, seja do Bairro do Camorim como do Alto Camorim. Foi depois de constatar tudo isso que resolvi criar o blog CAMORIM DAS LETRAS, aonde pretendo ir publicando crônicas em relação a este recanto maravilhoso que me acolhe com tanta natureza.
casarão abandonado dentro da reserva
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Outro detalhe é a forma de escrever. Prefiro o modo CRÔNICA, porque é literário, permite que eu fale aquilo que eu quiser, sem problema com dados históricos, tecnicos, verdadeiros ou não. Nessa opção, eu poço inclusive mentir, que ninguém pode falar nada, porque é literatura e como tal, não é documento. Não é texto científico, não tem compromisso com nada, e eu me esparramo em letras, solto os bichos e deixo o verbo falar. Digo nas crônicas acima coisas verdadeiras e opiniões pessoais, não ofendi a pessoa de ninguém e não deixei ninguém incólume a uma crítica de fundo, de sentido ético, isso em relação a vários assuntos levantados. Não saiu ilesa nem a minha igreja, seja por sua conivência com o poder, seja pela sua omissão perante os crimes cometidos por ela mesma contra SERES HUMANOS.
Hoje, o CAMORIM é digno de nota. Se por um lado não há uma política de REPARAÇÃO aos remanescentes quilombolas, se não há incentivo à pesca artesanal, nem sequer um mínimo de respeito com o complexo lagunar da região, e se avança a passos largos a ocupação urbana desordenada, nada ocorre sem a devida reação das respectivas vítimas. Inclusive a covardia das autoridades de plantão, EM TODOS OS NÍVEIS, que conive com os crimes ambientais mais assustadores, como o loteamento do Parque Estadual da Pedra Branca pelas milícias.
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